Yoga e Ayurveda

Vida de yoga na maternidade
Alguns anos atrás me disseram que os filhos, para as mulheres ocidentais, eram como os gurus para os hindus, isto é, traziam ensinamentos e sabedoria através da experiência da díade mãe-bebê e também da relação mãe, bebê e sociedade. Melhor dizendo, na presença ínfima de mestres espirituais no ocidente, a criança plena por nascença exerceria tal papel.
 Acontece na maternidade, muitas vezes, uma reestruturação do nosso ego. O recém nascido, em sua natureza, banhado em Moksha (estado de liberdade), nos faz repensar no que fazíamos até o momento em nossa vida e como, de maneira mais consciente e harmônica podemos nos relacionar com o mundo e com nós mesmas a partir de sua vinda. O bebê nos toca com sua pureza e ao mesmo tempo com sua profundidade. Grande parte dos nossos desejos e vontades, dos apegos e aversões passam a ficar em segundo plano ou modificam-se diante da nova etapa da vida vivida.
 O ego de nossos filhos vai sendo estruturado, e continuamente o aprendizado acontece:  intensifica-se na mãe, a auto-observação, os questionamentos e reflexões sobre a vida e si mesmo, podendo a mesma, conseqüentemente, vir a modificar alguns vasanas (tendências e pré-disposições), pensamentos e ações em prol a criação do bebê.
Por experiência própria digo que quando nasce nosso bebê floresce a capacidade de entrarmos em contato com o oceano de amor que há em nós e também de colocarmos em prática os Yamas e Nyamas (condutas éticas em relação aos outros e a nós mesmo), como por exemplo: Santosa, o contentamento, Daya, a compaixão, Tapah, a disciplina, e Namaha, a entrega.
Sinto que no momento em que o neném nasce, as mães têm a oportunidade de tornarem-se mais íntegras, no sentido de poderem entrar em contato com sua força interna, e com seu Dharma, seu propósito de vida, agindo com maior consciência com o coração, realizando muito mais com presença.
Toda mulher que é mãe tem a possibilidade de enxergar a maternidade como um caminho de crescimento e aprendizado espiritual.  A entrega a esse caminho é opcional, claro. Há mulheres que dentro do turbilhão de tornar-se mãe, não possuem o apoio necessário para poderem se aprofundar nessa experiência: ou têm que sair de casa para trabalhar, ou simplesmente as tarefas rotineiras as exaurem, as deixando sem energia para até mesmo olharem para seus filhotes exclusivamente por algumas horas do dia.  Há ainda mães que optam por deixarem seus filhos aos cuidados de terceiros para poderem “seguir” com sua vida “normal”.
A maternidade é uma fase da vida imensamente bela, intensa e trabalhosa. Cada um possui o livre-arbítrio para decidir qual o tipo de criação e cuidados dará a seus filhos. Seja qual for o caminho escolhido, que tenhamos sabedoria para olharmos nossos bebês e crianças com o olhar de aprendizes que permitem que esses “mestres” nos auxiliem a encontrarmos o caminho  do coração, da presença, da libertação.

Harih Om



ALIMENTAÇÃO PARA DOIS *
Por Maíra Duarte
(*)Essa matéria foi publicada na site do Yoga pela Paz.

A alimentação durante a gestação deve ser um dos maiores focos para manter a saúde da mãe e do bebê.
Deve ser à base de alimentos frescos, cozidos no dia e nutritivos.
Os principais são: feijões verdes (o feijão moyashi é excelente), arroz, leite, castanhas, sementes, frutas doces, cereais integrais (aveia e trigo), ghi, mel, melado e laticínios frescos. Folhas verdes devem ser ingeridas regularmente na hora do almoço, mas em pequenas quantidades.

O uso de algumas especiarias suaves é indicado para estimular a digestão, são elas: gengibre, cominho, coentro, erva-doce, louro, cardamomo, manjericão e cúrcuma. Elas devem ser usadas em pequena quantidade e com cuidado especial no primeiro trimestre, pois todo alimento que tem o sabor picante tende a ser abortivo. Das especiarias citadas acima, a que deve ser usada com maior cautela é a cúrcuma, que tem efeito emenagogo (promove a menstruação).

O Uso do Leite de Vaca :

Existem polêmicas relacionadas ao uso do leite de vaca na alimentação do ser humano durante a fase adulta. Segundo o Ayurveda, o leite é excelente fonte de proteína animal, principalmente em uma dieta vegetariana. Quando bem digerido, auxilia o movimento do intestino, fortalece o sistema reprodutivo, aumenta a vitalidade do organismo e é um alimento excelente para a mente, pois nutre o sistema nervoso.

Existem, porém, alguns aspectos a serem observados: se a pessoa está habituada a ingerir o leite, se ao ingeri-lo a digestão está equilibrada e se o leite que está sendo ingerido é de boa qualidade. Um leite de boa qualidade provém de uma vaca que convive com sua prole, ingere alimentos de qualidade e está em contato com as forças da natureza (sol, chuva, ar, terra e espaço).

O Ayurveda utiliza o leite como alimento e como veículo para ervas medicinais. É um alimento capaz de carrear rapidamente as propriedades das ervas para todos os tecidos do organismo.

Porém, a forma com o estamos acostumados a consumi-lo (com achocolatados ou frutas em vitaminas) gera toxinas. Ervas digestivas suaves como cúrcuma (açafrão da terra), canela, gengibre em pó e cardamomo auxiliam a digestão do leite e equilibram seu efeito nocivo de gerar muco, porém devem ser usadas com sabedoria e em pequenas quantidades nessa fase da vida da mulher. Utilizar açúcar de boa qualidade (açúcar demerara orgânico ou melado de cana orgânico) fervido com leite também ajuda a digeri-lo.

Portanto, quando ingerido corretamente, o leite é um excelente alimento durante a gestação e, quando usado com sabedoria, promoverá bom desenvolvimento do bebê, maior vitalidade e nutrição para a gestante e será fundamental para manter o bom funcionamento do intestino.

Ghee (Manteiga Clarificada)

O ghee é a gordura da manteiga, amplamente usado no Ayurveda. É resfriante, leve, penetrante e o melhor veículo para ervas. Nutre o sistema nervoso, a libido, o sistema imunológico, alivia queimaduras e hidrata pele ressecada. Pode ser usado interna e externamente. Em pequenas quantidades, no uso interno, aumenta a capacidade digestiva.
O ghi é um dos principais alimentos a serem usados durante a gravidez, veja como:

- A grávida pode adicionar uma colher de sopa no almoço e uma colher de chá à noite para fortalecer o sistema digestivo, nutre o bebê que está se formando e lubrifica os canais do corpo da mulher.

-O leite fervido com uma colher de chá de açúcar demerara orgânico, ingerido morno com uma colher de chá de ghi, é um excelente fortalecedor para a grávida e ajuda em casos de constipação intestinal. Ele é benéfico principalmente no primeiro trimestre.

-Adicione ao arroz cozido duas colheres de chá de ghi e coma no almoço.

-O ghi pode ser aplicado nas nádegas, nos seios (menos nos mamilos) e na barriga, para evitar o aparecimento de estrias, mas talvez a mulher relute devido ao cheiro forte. Nesses casos, o óleo de gergelim é outra ótima opção.

Maíra é terapeuta ayurvédica formada Escola Yoga Brahma Vidyalaya e no Curso Avançado de Ayurveda pela Academia Internacional de Ayurveda, na Índia. Especializou-se nos cuidados ayurvédicos com a gestante (Perfect Pregnancy Program). Doula formada pelo GAMA (Grupo de Apoio à Maternidade Ativa) e pela ONG Amigas do Parto, Maíra realiza acompanhamento de gestantes durante a gravidez, trabalho de parto e pós-parto. mairaduarte@gmail.com, (11) 8415-8222