A mulher e sua força

MÃE (DESNECESSÁRIA)
Marcia Neder
 
A boa mãe é aquela que vai se tornando desnecessária com o passar do tempo.
Várias vezes ouvi de um amigo psicanalista essa frase, e ela sempre me soou estranha.
 Chegou a hora de reprimir de vez o impulso natural materno de querer colocar a cria embaixo da asa, protegida de todos os erros, tristezas e perigos. Uma batalha hercúlea, confesso.
Quando começo a esmorecer na luta para controlar a super-mãe que todas temos dentro de nós, lembro logo da frase, hoje absolutamente clara.
 Se eu fiz o meu trabalho direito, tenho que me tornar desnecessária.
Antes que alguma mãe apressada me acuse de desamor, explico o que significa isso.
Ser “desnecessária” é não deixar que o amor incondicional de mãe, que sempre existirá, provoque vício e dependência nos filhos, como uma droga, a ponto de eles não conseguirem ser autônomos, confiantes e independentes. Prontos para traçar seu rumo, fazer suas escolhas, superar suas frustrações e cometer os próprios erros também.
 A cada fase da vida, vamos cortando e refazendo o cordão umbilical.
A cada nova fase, uma nova perda é um novo ganho, para os dois lados, mãe e filho.
Porque o amor é um processo de libertação permanente e esse vínculo não pára de se transformar ao longo da vida.
 Até o dia em que os filhos se tornam adultos, constituem a própria família e recomeçam o ciclo.
O que eles precisam é ter certeza de que estamos lá, firmes, na concordância ou na divergência, no sucesso ou no fracasso, com o peito
 aberto para o aconchego, o abraço apertado, o conforto nas horas difíceis.
Pai e mãe - solidários - criam filhos para serem livres.
Esse é o maior desafio e a principal missão.
Ao aprendermos a ser “desnecessários”, nos transformamos em porto seguro para quando eles decidirem atracar.

O silêncio da lua no ventre
O tempo é o que sinto
Pra ouvir o agora, o presente
Abro a porta e deixo fluir o sopro da semente
Transborda e vibra o que sai da mente no estado de contemplação
Para além das palavras o paraíso inspira
A noite antevê o que ilumina
O dia que nasce tranqüilo, irradia
A força é saber deixar
Saber se abandonar
Me deixo num abraço caloroso
Descanso no perfume da flor
Abandono tudo o que sei no ritmo da maré
O mar me acolhe, cura e acalma
Nada é uma surpresa tão grande para a alma
O que eu sei não cabe em mim
Fica apertado, prefiro o vazio de uma vaso de barro
A lua cheia em meu ventre
O silêncio é o manto que protege, guarda
O movimento sutil é o que embala
O sorriso que vem do fundo desperta até a beleza de quem não tem
Acolher é o verbo que me encanta e que me faz bem.
Sigo no encanto desta noite que continua amanhã
Com o brilho do sol que vai me encontrar desperta.

Por Janaina Ribeiro - gestante!